Para boa parte dos brasileiros, um emprego público é sinônimo de
salário alto, estabilidade e tranquilidade associados a uma menor cobrança por
resultados. É uma visão tão consolidada que muitos chegam a se dedicar em tempo
integral à missão de estudar para um concurso. A cada ano, cerca de 30 milhões
de candidatos se inscrevem nessas provas, em todos os âmbitos da esfera
pública.
Desenvolveu-se
uma verdadeira indústria em torno desse público,
envolvendo cursos preparatórios, venda de apostilas e outros recursos
de estudo. Estima-se que, considerando tudo o que há em torno dela, como
transporte e alimentação, essa indústria movimente em torno de 50 bilhões de
reais por ano no país.
Ainda
assim, não é raro encontrar quem, depois de um grande esforço para ser aprovado
em um concurso público, se decepcione com as
condições de trabalho encontradas. Um dos motivos mais frequentes para esse
desencanto são os entraves burocráticos em processos que vão desde os mais
cotidianos, como a compra de suprimentos, até os mais complexos, como a
transferência de cargo ou de cidade.
Outra
fonte de desânimo nessas instituições é a sensação de que o bom desempenho não
é reconhecido, de tal forma que acaba não fazendo muita diferença executar o
trabalho com dedicação média ou buscar a máxima produtividade. Critérios
políticos - o famoso “quem indica” - no momento das promoções também são
motivos de críticas constantes.
Mas
há instituições públicas que demonstram que não precisa ser assim e que tomaram
a dianteira no processo de mudança apontando caminhos de evolução. É o caso das
três instituições classificadas neste Guia VOCÊ S/A - As Melhores Empresas para
Você Trabalhar: Banco do Brasil, Tribunal de Contas da União (TCU) e
Eletronorte.
Elas
demonstram, cada uma a seu modo, um grande esforço para se tornar lugares
atraentes para profissionais altamente qualificados e exigentes. Podem ser
consideradas, assim, referência quando se fala em gestão de pessoas, condição que
durante um bom tempo esteve reservada a corporações do setor privado.
Crescimento por mérito
Logo
que assumiu o posto de técnico da seleção brasileira, em novembro de 2012, Luiz
Felipe Scolari causou polêmica ao falar sobre a pressão de ter a “obrigação” de
vencer a Copa do Mundo por causa da condição do Brasil de país-sede.
“Quem
joga futebol enfrenta pressão. Se não quer pressão, vai trabalhar no Banco do
Brasil, senta no escritório e não faz nada. Lá, não vai ter pressão nenhuma”,
afirmou, na época. Como era previsível, o comentário de Felipão foi mal
recebido pelos bancários, principalmente porque, nos últimos anos, poucas
categorias têm sido submetidas a um nível de pressão semelhante ao enfrentado
por quem trabalha em banco.
Na
realidade, a comparação feita por Felipão revelou uma visão antiquada e
preconceituosa, ainda muito presente no país: a de que trabalhar no setor
público equivale a trabalhar pouco, sob a proteção da estabilidade, e desfrutar
de uma série de mordomias.
Atualmente,
a história não é exatamente essa: os salários do setor público não destoam
tanto dos da iniciativa privada, e o cotidiano do trabalho deixou de ser tão
tranquilo - há mais tarefas para dar conta e metas bem mais ambiciosas a ser
perseguidas. Ao mesmo tempo, os princípios de meritocracia estão se tornando
mais sólidos, com implicações diretas nas perspectivas de desenvolvimento
profissional e crescimento na hierarquia corporativa.
Um
exemplo disso foi a criação, no Banco do Brasil, de uma metodologia pela qual o
desempenho de todos os funcionários é avaliado por meio de métricas claras e
transformado em pontos, de modo que apenas aqueles com as 20
melhores pontuações cheguem à fase final da seleção para as
promoções. O principal objetivo foi acabar com as indicações políticas.
“Melhorar
a pontuação depende do esforço e da capacidade que o próprio profissional
demonstra. Nada mais justo e transparente”, diz Carlos Netto, diretor de gestão
de pessoas do banco.
No
TCU, foi criado um sistema de gratificação por desempenho. A cada semestre, os
funcionários podem receber um adicional de até 80% do vencimento básico de seu
cargo se alcançarem as metas individuais previamente estabelecidas.
Para
viabilizar esse expediente, foi preciso encaminhar um projeto de lei
específico que criou a previsão orçamentária necessária. Estratégia semelhante
está sendo articulada para a obtenção de uma gratificação para quem faz cursos
de especialização, mestrado ou doutorado.
Fonte:
Exame.com
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